quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

As saudades

Ahh.. saudade! Olhar para trás como quem já não está mais aqui, re-sentir/re-viver tudo, outra vez, e, até mesmo, se pegar sorrindo com estas boas lembranças. Mas do que estamos sentindo saudades; De uma pessoa? De um animal? De um objeto? Talvez nada disso, exatamente.
Não temos crivados em nossa mente pessoas, animais ou objetos, mas sim o significado vivo daquilo que estas coisas despertaram em nós, são todas partes fragmentadas de nossas experiências interpessoais somadas a nossos conteúdos internos, filtradas por nossa subjetividade e armazenadas cuidadosamente por nosso inconsciente.
Não tenho saudades de ti mas daquilo que me fizeste sentir, oh meu grande primeiro amor, nunca houve mão tão macia quanto estas e tua boca que nunca ousei tocar mas senti como se molhasse meus lábios.
Ao evocarmos uma lembrança, temos um quadro sintomático de reações fisiológicas condizentes com os sentimentos que estas memórias nos trazem. Pensamos no amor e logo nos falta ar, levando o incansável coração a palpitar. Lembramos ódio e nossa mão se fecha enquanto nosso sistema cardio-vascular jorra adrenalina por nosso corpo e mente. As memórias ansiogênicas nos remetem a este mesmo estado maltratando nosso incansável companheiro.
O prazer que é despertado ao submergirmos na situação e viver intensamente estes sentimentos faz destes momentos únicos e tornam-nos saudosos, ansiamos ter estas sensações novamente, mergulhar num profundo gozo desejando jamais ter este momento terminado. Então revivemo-os e agarramo-os sem jamais deixá-los irem embora. Se tornam fantasmas e amamos esta sensação de estar novamente provando da fonte que nunca cessa de jorrar. Se perdemos no hoje curtindo um ontem que nunca vai embora.
Mas não quero te matar! Você foi muito especial para mim e não quero que isso se vá.
Será realmente necessário desligar-se das fantasias reprodutórias e viver o agora?(sim!)

“O desejo enquanto real não é da ordem da palavra e sim do ato.” Lacan